terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Nem chorando nem sorrindo

Em um dos almoços com o povo da universidade, um dos amigos brasileiros comentou que tem muito brasileiro morando fora do Brasil, e quando alguém perguntou 'por que?', por surpresa minha, ele não sabia ou não tinha nenhuma opinião sobre isso. E eu fiquei encucada pensando por que será que os brasileiros não sabem ou simplesmente não se perguntam por que danado tem tanto brasileiro pelo mundo? Por que eles não se perguntam das coisas que acontecem em seu próprio país? Mesmo aqueles que estão fora?
Eu, depois de três e meio países morados, alguns mais visitados e algum tempo gastado, tenho algumas opiniões sobre isso.


A primeira razão, e mais irritante de todas, é que desde sempre foi cultivado no Brasil que tudo que vem de fora é muito melhor, principalmente tudo que vem dos EUA e da Europa. Como qualquer pessoa noraml pensa 'eu quero o melhor pra mim', não é difícil daí chegar a 'vou juntar um dinheirinho e ir mimbora pros estrangêro, ganhar a vida!'. E quando chega nos estrangêro, fica sim deslumbrado, achando tudo lindo. Até eu fiquei! Disse que se pudesse não voltaria mais pro Brasil. Claro que, depois do meu primeiro inverno e entender (ou tentar entender sem sucesso) como a vida funciona do outro lado do oceano, eu mudei de opinião.


Em segundo lugar, os salários padrão no Brasil, pra grandíssima maioria, não dão o mesmo poder aquisitivo do que o salário equivalente nos países mais ricos. Então as pessoas, mesmo as mais estudadas e diplomadas, independente do trabalho que arrumem, conseguem pagar o aluguel, fazer a feira, pagar o ônibus e, economizando, pagar a cerveja do fim de semana e uma viagem uma vez perdida. Pior são aqueles que pensam 'vou ganhar 1000€! carai! 3.000 reais! bom demais!'. Eles não pensam que, pagando as contas em euro, a vida fica bem apertada.


Claro que tem outros porquês, como fazer um doutorado numa área que não é tão desenvolvida no Brasil, ou simplesmente passar um tempo morando fora pra aprender um monte de coisas – algo muito bom pra qualquer um. Isso não é um problema (eu sou a última que teria direito de achar isso um problema :P), o que me irrita é o fato que a maioria dos brasileiro não critica nem pensa sobre seu próprio país e sobre o que procuram no lado de cá do oceano.


E no fim das contas, é uma burrice tão grande comparar qualquer país Europeu ou Norte Americano com o Brasil. São vidas completamente diferentes: clima, comida, gente, língua, cultura... O importante é que cada um possa descobrir seu lugar, mesmo sem nunca ter saído do Brasil, seja em Areial (Paraíba), em Amiens (França) ou em Zundert (Holanda), mas é extremamente necessário aprender a se perguntar e criticar o que ver, do Brasil e de fora, e não apenas aceitar que aqui fora é melhor, porque não é. É diferente, é interessante, é especial... mas nunca é perfeito, nem aqui nem lá.

3 comentários:

  1. Aidon,

    Eu acho que você está rancorosa com o frio, e se recura a aceitar que tudo ao norte do equador é melhor. Inda mais nos países protestantes, aí sim tudo é mais gostoso! ;D

    Mas na vera, eu acho que um grande problema é o processo de mitificação que pode ser feito em relação a qualquer país/cultura.

    Essa mistificação é ruim, independente de qual lado do contínuo ela ocorra. É ruim colocar algo num altar e considerar perfeito, da mesma forma que é péssimo transformar algum outro país num satanás que, como todo bom bode-expiatório, é o culpado e responsável por todos os males que ocorram. (então manere com o pobrezinho do frio!)

    Austublift

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  2. Querido Ovídio (Que eu vi uma vez, mas é tao amigo de amigos que eu sinto como se fosse amigo meu tbem),

    Concordo com vc: os brasileiros que mais sofrem aqui sao aqueles que idealizaram uma vida perfeita (principalmente os que nao tem formacao e tem que se contentar com sub-empregos). Com o tempo eles percebem que o Brasil nao é esse "satanás" que eles julgaram, e que a europa nao se encontra necessariamente num "altar".

    Vejam o exemplo do filme "O Milagre de Santa Luzia", com Dominguinhos. É a mesma estória: nordestinos que tentam a vida no Rio e em Sao Paulo, e que sofrem ao descobrirem como "eram felizes e nao sabiam". Muitos deles nunca mais conseguiram voltar...

    Agora deixando a "Mitificacao" de lado, eu acho sim uma experiência extremamente válida passar-se um período da vida em outro(s) país(es).

    Nao dá nem pra explicar com palavras como ampliam-se os horizontes. É um crescimento "necessário" para o intelecto. Leiam Clarice Linspector e vejam como essa mulher traz consigo todas as culturas que ela viveu. Afirmo que ela nao escreveria assim se nao tivesse rodado o mundo inteiro com seu entao marido diplomata.

    Enfim, vou parar senao meu comentário vai ficar maior que o artigo em si, mas VIVA A DESCOBERTA DE NOVAS CULTURAS, E QUE CHEGUE O VERAO, QUE NINGUÉM É DE FERRO PRA AGUENTAR TANTO FRIO!!!

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  3. Eu acho que, na verdade, esse não é um movimento que acontece apenas com o Brasil. Aida mesma vive falando que os chineses vão dominar o mundo, e se deixar vão mesmo. Esse é um movimento comum na China, na Índia, em tantos outros países da América Latina, da África e da Ásia. A esse movimento se dá o nome de Diáspora, e tem um monte de autores (da sociologia, da antropologia) escrevendo sobre isso. São os povos desterritorializados. E são muitos, os brasileiros são apenas mais um deles. É um movimento que sempre existiu na história da humanidade, só que hoje tá muito mais intenso com a chamada "pós-modernidade" que vivemos hoje.

    Eu acho que tem coisas boas e ruins nisso tudo. Mas por enquanto eu só posso falar de mim. Apesar de já conhecer um pedacinho da Europa, adoraria fazer um doutorado fora do Brasil, como experiência de vida. Depois voltar pra minha terra, de preferência para João Pessoa mesmo, e ajudar os meus coneterrâneos a crescerem junto comigo. Não tem salário em Euro que pague o valor de vc estar no lugar onde vc se sente em casa.

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